quarta-feira, 11 de abril de 2012

Audiência Papal do Dia 11

A Páscoa do Senhor
11 de Abril de 2012

Piazza San Pietro

Queridos irmãos e irmãs!
Depois das solenes celebrações da Páscoa, o nosso encontro de hoje está imbuído de alegria espiritual, mesmo se o céu está cinzento, no coração levamos a alegria da Páscoa, a certeza da Ressurreição de Cristo que triunfou definitivamente sobre a morte. Antes de tudo renovo a cada um de vós os cordiais votos pascais: em todas as casas e em todos os corações ressoe o anúncio jubiloso da Ressurreição de Cristo, de modo que faça renascer a esperança.
Nesta catequese gostaria de mostrar a transformação que a Páscoa de Jesus causou nos seus discípulos. Comecemos pela noite do dia da Ressurreição. Os discípulos estão fechados em casa com medo dos judeus (cf. Jo 20, 19). O temor aperta o coração e impede de ir ao encontro dos outros, ao encontro da vida. O Mestre já não está com eles. A recordação da sua Paixão alimenta a incerteza. Mas Jesus toma a peito os seus e está para cumprir a promessa que tinha feito durante a Última Ceia: «Não vos deixarei órfãos, virei ter convosco» (Jo 14, 18) e diz isto também a nós, igualmente em tempos obscuros: «Não vos deixarei órfãos». Esta situação de angústia dos discípulos muda radicalmente com a chegada de Jesus. Ele entra com as portas fechadas, está no meio deles e concede a paz que tranquiliza: «A paz seja convosco» (Jo 20, 19b). É uma saudação comum que contudo adquire agora um significado novo, porque realiza uma mudança interior; é a saudação pascal, que faz com que os discípulos superem qualquer receio. A paz que Jesus traz é o dom da salvação que Ele tinha prometido durante os seus discursos de despedida: «Deixo-vos a Minha paz, a Minha paz vos dou. Mas não vo-la dou como o mundo a dá. Não se perturbe o vosso coração e não receeis» (Jo 14, 27). Neste dia de Ressurreição, Ele concede-a em plenitude e ela torna-se para a comunidade fonte de alegria, certeza de vitória, segurança ao apoiar-se em Deus. «Não se perturbe o vosso coração e não tenhais medo» (Jo 14, 1) diz também a nós. Depois desta saudação, Jesus mostra aos discípulos as feridas das mãos e do lado (cf. Jo 20, 20), sinais do que foi e que nunca mais se cancelará: a sua humanidade gloriosa permanece «ferida». Este gesto tem a finalidade de confirmar a nova realidade da Ressurreição: o Cristo que agora está entre os seus é uma pessoa real, o mesmo Jesus que três dias antes foi pregado na cruz. E é assim que, na luz resplandecente da Páscoa, no encontro com o Ressuscitado, os discípulos captam o sentido salvífico da sua paixão e morte. Então, da tristeza e do medo passam para a alegria plena. A tristeza e as próprias feridas tornam-se fonte de alegria. A alegria que nasce no coração deles é originada pela «visão do Senhor» (Jo 20, 20). Ele diz-lhe novamente: «A paz seja convosco» (v. 21). Agora é evidente que não é só uma saudação. É um dom, o dom que o Ressuscitado deseja fazer aos seus amigos, e é ao mesmo tempo uma recomendação: esta paz, adquirida por Cristo com o seu sangue, é para eles mas também para todos, e os discípulos deverão levá-la a todo o mundo. De facto, Ele acrescenta: «Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós» (ibid.). Jesus ressuscitado voltou entre os discípulos para os enviar. Ele completou a sua obra no mundo, agora compete a eles semear a fé nos corações para que o Pai, conhecido e amado, reúna todos os seus filhos dispersos. Mas Jesus sabe que os seus ainda têm muito receio, sempre. Por isso realiza o gesto de soprar sobre eles para os regenerar no seu Espírito (cf. Jo 20, 22); este gesto é o sinal da nova criação. De facto, com o dom do Espírito Santo que provém do Cristo ressuscitado iniciou um mundo novo. Com o envio em missão dos discípulos, inaugura-se o caminho no mundo do povo da nova aliança, povo que crê n'Ele e na sua obra de salvação, povo que testemunha a verdade da ressurreição. Esta novidade de vida que não morre, que a Páscoa traz, deve ser difundida em toda a parte, para que os espinhos do pecado que ferem o coração do homem, deixem o lugar aos rebentos da Graça, da presença de Deus e do seu amor que vencem o pecado e a morte.
Queridos amigos, também hoje o Ressuscitado entra nas nossas casas e nos nossos corações, não obstante por vezes as portas estejam fechadas. Entra doando alegria e paz, vida e esperança, dons dos quais temos necessidade para o nosso renascimento humano e espiritual. Só Ele pode afastar aquelas pedras sepulcrais que muitas vezes o homem coloca nos seus sentimentos, nas suas relações, nos seus comportamentos; pedras que sancionam a morte: divisões, inimizades, rancores, invejas, desconfianças, indiferenças. Só Ele, o Vivente, pode dar sentido à existência e fazer retomar o caminho a quem está cansado e se sente triste, desanimado e sem esperança. Foi quanto experimentaram os dois discípulos que no dia de Páscoa estavam a caminho de Jerusalém para Emaús (cf. Lc 24, 13-35). Eles falam de Jesus, mas o seu «rosto triste» (cf. v. 17) expressa as esperanças desiludidas, a incerteza e a melancolia. Tinham deixado as suas cidades para seguir Jesus com os seus amigos, e tinham descoberto uma realidade nova, na qual o perdão e o amor já não eram só palavras, mas tocavam concretamente a existência. Jesus de Nazaré tinha renovado todas as coisas, tinha transformado a vida deles. Mas agora Ele morrera e tudo parecia ter terminado.
Mas de repente já não são duas mas três pessoas que caminham. Jesus aproxima-se dos dois discípulos e caminha com eles, mas eles são incapazes de O reconhecer. Certamente, tinham ouvido vozes acerca da sua ressurreição, de facto contam-lhe: «Algumas mulheres, das nossas, perturbaram-nos; foram ao sepulcro de manhã cedo e, não tendo encontrado o seu corpo, vieram dizer-nos que tiveram também uma visão dos anjos, os quais afirmam que ele está vivo» (vv. 22-23). Mas tudo isto não tinha sido suficiente para os convencer, porque «eles não O viram» (v. 24). Então Jesus, com paciência, «começando por Moisés e por todos os profetas, explicou-lhes em todas as Escrituras o que se referia a Ele» (v. 27). O Ressuscitado explica aos discípulos a Sagrada Escritura, oferecendo a chave de leitura fundamental dela, ou seja, Ele mesmo e o seu Mistério pascal: d'Ele as Escrituras dão testemunho (cf. Jo 5, 39-47). O sentido de tudo, da Lei, dos Profetas e dos Salmos, de repente abre-se e torna-se claro aos seus olhos. Jesus tinha-lhes aberto a mente à inteligência das Escrituras (cf. Lc 24, 45).
Entretanto, tinham chegado à aldeia, provavelmente à casa de um dos dois. O viandante forasteiro comporta-se «como se tivesse que ir mais longe» (v. 28), mas depois pára porque lhe pedem com fervor: «Fica connosco» (v. 29). Também nós devemos dizer ao Senhor sempre de novo com fervor: «Fica connosco». «Quando estava à mesa com eles, tomou o pão, recitou a bênção, partiu-o e deu-lho» (v. 30). A referência aos gestos realizados por Jesus na Última Ceia é evidente. «Então abriram-se-lhe os olhos e reconheceram-no» (v. 31). A presença de Jesus, inicialmente com as palavras, depois com o gesto de partir o pão, dá a possibilidade aos discípulos de O reconhecer, e eles podem sentir de maneira nova quanto já tinham sentido ao caminhar com Ele: «Não ardia porventura em nós o nosso coração quando ele conversava connosco ao longo do caminho, quando nos explicava as Escrituras?» (v. 32). Este episódio indica-nos dois «lugares» privilegiados onde podemos encontrar o Ressuscitado que transforma a nossa vida: a escuta da Palavra, em comunhão com Cristo, e o partir do Pão; dois «lugares» profundamente unidos entre eles porque «Palavra e Eucaristia pertencem-se tão intimamente que uma sem a outra não pode ser compreendida: a Palavra de Deus faz-se carne sacramentalmente no acontecimento eucarístico» (Exort. ap. pós-sin. Verbum Domini, 54-55).
Depois deste encontro, os dois discípulos «partiram sem hesitar e regressaram a Jerusalém, onde encontraram reunidos os Onze e os outros que andavam com eles, os quais diziam: «Verdadeiramente o Senhor ressuscitou e apareceu a Simão!» (vv. 33-34). Em Jerusalém eles ouvem a notícia da ressurreição de Jesus e, por sua vez, contam a própria experiência, inflamada de amor pelo Ressuscitado, que lhes abriu o coração para uma alegria irreprimível. Foram — como diz são Pedro — «regenerados para uma esperança viva da ressurreição de Cristo dos mortos» (cf. 1 Pd 1, 3). Com efeito, renasce neles o entusiasmo da fé, o amor pela comunidade, a necessidade de comunicar a boa nova. O Mestre ressuscitou e com Ele toda a vida ressurge; testemunhar este acontecimento torna-se para eles uma necessidade irreprimível.
Queridos amigos, o Tempo pascal seja para todos nós a ocasião propícia para redescobrir com alegria e entusiasmo as nascentes da fé, a presença do Ressuscitado entre nós. Trata-se de realizar o mesmo itinerário que Jesus fez com que os dois discípulos de Emaús percorressem, através da redescoberta da Palavra de Deus e da Eucaristia, ou seja, andar com o Senhor e deixar-se abrir os olhos ao verdadeiro sentido da Escritura e à sua presença ao partir do pão. O ápice deste caminho, hoje como naquela época, é a Comunhão eucarística: na Comunhão Jesus alimenta-nos com o seu Corpo e com o seu Sangue, para estar presente na nossa vida, para nos renovar, animados pelo poder do Espírito Santo.
Para concluir, a experiência dos discípulos convida-nos a reflectir acerca do sentido da Páscoa para nós. Deixemo-nos encontrar por Jesus ressuscitado! Ele, vivo e verdadeiro, está sempre presente no meio de nós; caminha connosco para guiar a nossa vida, para abrir os nossos olhos. Tenhamos confiança no Ressuscitado que tem o poder de dar a vida, de nos fazer renascer como filhos de Deus, capazes de crer e de amar. A fé n'Ele transforma a nossa vida: liberta-a do medo, dá-lhe esperança firme, anima-a com o que confere sentido pleno à existência, o amor de Deus. Obrigado.




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