01 de abril
São Hugo

Aos vinte e sete anos, Hugo ordenou-se e foi para a diocese de
Valence, onde foi nomeado cônego. Depois, passou para a arquidiocese de
Lião, como secretário do arcebispo. Nessa época, recebeu a primeira de
uma série de missões apostólicas que o conduziriam para a santidade. Foi
designado, por seu superior, para trabalhar na delegação do papa
Gregório VII. Este, por sua vez, reconhecendo sua competência,
inteligência, prudência e piedade, nomeou-o para uma missão mais
importante ainda: renovar a diocese de Grenoble.
Grenoble era uma diocese muito antiga, situada próxima aos Alpes,
entre a Itália e a França, que possuía uma vasta e importante
biblioteca, rica em códigos e manuscritos antigos. A região era muito
extensa e tinha um grande número de habitantes, mas suas qualidades
terminavam aí. Havia tempos a diocese estava vaga, a disciplina
eclesiástica não mais existia e até os bens da Igreja estavam
depredados.
Hugo foi nomeado bispo e começou o trabalho, mas eram tantas as
resistências que renunciou ao cargo e retirou-se para um mosteiro. Mas
sua vida de monge durou apenas dois anos. O papa insistiu porque estava
convencido de que ele era o mais capacitado para executar essa dura
missão e fez com que o próprio Hugo percebesse isso também, reassumindo o
cargo.
Cinco décadas depois de muito trabalho, árduo mas frutífero, a
diocese estava renovada e até abrigava o primeiro mosteiro da ordem dos
monges cartuchos. O bispo Hugo não só deixou a comunidade organizada e
eficiente, como ainda arranjou tempo e condições para acolher e ajudar
seu antigo professor, o famoso monge Bruno de Colônia, que foi elevado
aos altares também, na fundação dessa ordem. Planejada sobre os dois
pilares da vida monástica de então, oração e trabalho, esses monges
buscavam a solidão, a austeridade, a disciplina pelas orações
contemplativas, pelos estudos, mas também a prática da caridade pelo
trabalho social junto à comunidade mais carente, tudo muito distante da
vida fútil, mundana e egoísta que prevalecia naquele século.
Foram cinqüenta e dois anos de um apostolado profundo, que uniu o povo na fé em Cristo.
Já velho e doente, o bispo Hugo pediu para ser afastado do cargo,
mas recebeu do papa Honório II uma resposta digna de sua amorosa
dedicação: ele preferia o bispo à frente da diocese, mesmo velho e
doente, do que um jovem saudável, para o bem do seu rebanho.
Hugo morreu com oitenta anos de idade, no primeiro dia 1132, cercado
pelos seus discípulos monges cartuchos que o veneravam pelo exemplo de
santidade em vida. Tanto assim que, após seu trânsito, muitos milagres e
graças foram atribuídos à sua intercessão. O culto a são Hugo foi
autorizado dois anos após sua morte, pelo papa Inocente II, sendo
difundido por toda a França e o mundo católico.
Ludovico Pavoni

Naqueles anos de fome e de guerras, quando a miséria, as doenças e
as armas se tornaram aliadas importantes para exterminar os pobres,
Ludovico Pavoni teve uma intuição genial e profética, "educar, abrigar e
instruir" os jovens pobres, abandonados ou desertores que eram, de
fato, numerosos na Itália de 1800, tanto nas cidades como no campo.
Não só para evitar que se tornassem delinqüentes, o que mais temia a
elite pensante daquele tempo, e com certeza não só daquela época, mas
para que eles tivessem a oportunidade de viver uma vida digna, do ponto
de vista cristão e humano.
Ordenado padre em 1807, Ludovico Pavoni se dedicou desde o início à
educação dos jovens e criou o "seu" orfanato para abrigar os
adolescentes e jovens necessitados. Já como secretário do bispo de
Bréscia, conseguiu, para aqueles jovens, fundar o primeiro "Colégio de
Artífices" e, depois, em 1821, a primeira escola gráfica da Itália, o
Pio Instituto de São Barnabé.
Tipografia e Evangelho eram seus instrumentos preciosos: a receita
natural era a mais simples possível, como dizia ele: "Basta colocar
dentro da impressora jovens motivados, que os volumes de 'boa doutrina
cristã' estarão garantidos". Analogia de fato simples e correta mesmo
para os nossos dias. Em 1838, nasceu a escola para surdos-mudos, sendo
inútil acrescentar o quanto essa também estava na vanguarda daqueles
tempos. Em 1847, a Congregação Religiosa dos Filhos de Maria Imaculada,
abrigando religiosos e leigos juntos, hoje conhecidos como "os
pavonianos".
Pela discrição pode ainda parecer fácil, mas para colocar em prática
todo esse projeto, o vulcânico padre bresciano empregou tudo de si, do
bom e do melhor, chocando-se com as autoridades civis e com as
eclesiásticas. Sair recolhendo os jovens pobres e abandonados pelas ruas
era algo que batia de frente com rígidos costumes sociais e morais da
época. Por mais de uma década, Pavoni se debateu entre cartas, pedidos,
súplicas e solicitações, tanto assim que foi definido "mártir da
burocracia", mas, do dilúvio, saiu vencedor.
Padre Ludovico Pavoni faleceu no dia 1o de abril de 1849, durante a
última das dez jornadas brescianas, de uma pneumonia contraída durante
uma fuga desesperada, organizada na tentativa de proteger os "seus"
jovens das bombas austríacas, quando ganhou, finalmente, o merecido
abraço do Pai Eterno. De resto, ele sempre dizia: "O repouso será no
Paraíso".
Apesar da distância dos anos, hoje os pavonianos continuam a
"educar, abrigar e instruir" os jovens desses grupos, mas também todos
os que simplesmente procuram um trabalho e um lugar na vida,
providenciando a instrução escolar básica e colaborando com as igrejas
locais nas pastorais dos jovens. São incansáveis em suas atividades,
porque os traços cunhados pelo padre Ludovico estão ainda frescos, o
exemplo do fundador está inteiramente vivo, latente e atual.
Hoje, outros levam avante sua obra, nos quatro cantos do mundo, os
pavonianos administram tudo o que possa estar relacionado à formação
desses jovens: comunidades religiosas, escolas, institutos de formação
profissional, centros de recuperação de dependentes químicos, asilos de
idosos, pensionatos, orfanatos, creches, paróquias, cooperativas,
centros de juventude, livrarias e a editora Âncora, na Itália. Além
disso, alfabetizam os deficientes surdos-mudos e formam pequenos
artífices nas artes gráficas, esses que eram os diletos de Ludovico
Pavoni.
São Valério
Valério
nasceu no ano 565, em Auvergne, na França. Sua família era muito pobre e
ele trabalhava no campo. Ainda pequeno, tinha uma enorme sede de saber
e, para aprender a ler e escrever, ele mesmo foi procurar um professor, e
pediu que lhe ensinasse o alfabeto.
Mais depressa do que qualquer outro de sua idade, Valério já
dominava a escrita e a leitura. Após conhecer a Sagrada Escritura,
procurou um parente sacerdote que vivia num mosteiro próximo. Passou ali
alguns dias, percebeu sua vocação para a vida religiosa e pediu seu
ingresso naquela comunidade. Depois de um bom tempo realizando várias
tarefas internas, foi aceito e recebeu as ordens sacerdotais.
Pouco depois, mudou-se para um mosteiro sob a direção espiritual de
Columbano, o grande evangelizador da Gália, atual França, que depois foi
canonizado, onde aconteceu seu primeiro prodígio. Designado para cuidar
da horta do convento, sem nenhum produto a não ser com o trabalho de
suas próprias mãos, acabou com as pragas que assolavam anualmente as
plantações. Tornou-se tão conhecido na região e tão respeitado
internamente que foi testado em sua humildade. Com autorização do abade
Columbano, procurou o rei Clotário, conseguindo dele um grande terreno
para construir um mosteiro, em Leuconai, na França. Logo depois o local
já contava, também, com uma igreja e várias celas para religiosos.
A fama do sacerdote Valério se propagou ainda mais, de modo que
dezenas de homens, jovens e idosos, procuravam o convento para
ingressarem na vida religiosa sob a sua orientação. Mas novamente
sentiu-se impelido ao trabalho de evangelização. Na companhia de seu
auxiliar Valdolem, viajou por todo o país pregando e convertendo pagãos.
Diz a tradição que o monge Valério possuía o dom da cura e há vários
relatos sobre elas. Como a de um paralítico que voltou a andar ao toque
de suas mãos e muitos doentes desenganados que se curavam na hora, na
presença da população. Além disso, tinha o dom da profecia e um dom
especial sobre os animais. Conta-se que, quando passava pela floresta,
os pássaros vinham ao seu encontro, seguiam-no, pousavam em suas mãos,
braços e ombros, parecia que "conversavam" com ele.
Valério morreu no dia 1o de abril de 619, no mosteiro de Leuconai,
depois de converter milhares de pagãos, ter feito muitos discípulos e
ter entregado sua vida à Deus, através do seu vigoroso e intenso
apostolado. O culto de são Valério se propagou rapidamente, até mesmo
porque o rei Hugo, seu devoto, dizia que o santo costumava orientá-lo em
sonho, sendo muito festejado, além da França, na Itália, Alemanha e
Inglaterra, no dia de sua morte.
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