1 de janeiro de 2012
HOMILIA DO PAPA BENTO XVI
Basílica Vaticana
Queridos irmãos e irmãs!
No primeiro dia do ano, a liturgia faz ressoar em toda a Igreja estendida pelo
mundo inteiro a antiga bênção sacerdotal, que ouvimos na primeira Leitura:"o
Senhor te abençoe e te guarde! O Senhor faça brilhar sobre ti a sua face, e se
compadeça de ti! O Senhor volte para ti o seu rosto e te dê a paz!" (Nm
6, 24-26). Esta bênção foi dada por Deus através de Moisés, a Aarão e aos seus
filhos, ou seja, aos sacerdotes do povo de Israel. É um tríplice voto cheio de
luz que brota da repetição do nome de Deus, o Senhor, e da imagem de seu rosto.
Na verdade, para ser abençoado é necessário estar na presença de Deus, receber
sobre si o Nome d'Ele e permanecer no feixe de luz que parte do seu rosto, no
espaço iluminado pelo seu olhar, que difunde a graça e a paz.
Esta é também a experiência que fizeram os pastores de Belém, que aparecem de novo no Evangelho de hoje. Eles fizeram a experiência de estarem na presença de Deus, da sua bênção, não em um salão de um Palácio majestoso, na presença de um grande soberano, mas em um estábulo, diante de um "recém-nascido deitado na manjedoura" (Lc 2.16). É justamente desse menino que se irradia uma nova luz que brilha na escuridão da noite, como podemos ver em muitas pinturas que representam o Nascimento de Cristo. Agora, é d'Ele que nos vem a bênção: do seu nome – Jesus, que significa "Deus salva" – e do seu rosto humano, no qual Deus, o Todo-poderoso, Senhor do céu e da terra, quis se encarnar, ocultando a sua glória sob o véu da nossa carne, para nos revelar plenamente a sua bondade (cf. Tt 3,4).
Maria, a Virgem, esposa de José, a quem Deus escolheu desde o primeiro momento da sua existência para ser a mãe do seu Filho feito homem foi a primeira a ser preenchida por esta bênção. Ela, como a saúda Santa Isabel, é a "bendita entre as mulheres" (Lc 1,42). Toda a sua vida está na luz do Senhor, no âmbito do nome e do rosto de Deus encarnado em Jesus, o "fruto bendito do seu ventre". O Evangelho de Lucas nos apresenta Maria deste modo: totalmente dedicada a conservar e meditar no seu coração tudo o que diz respeito ao seu filho Jesus (cf. Lc 2, 19.51). O mistério da sua maternidade divina, que hoje celebramos, possui de modo superabundante aquele dom da graça que toda maternidade humana traz consigo: de fato, a fecundidade do ventre sempre foi associada com a bênção de Deus. A Mãe de Deus é a primeira abençoada e é aquela que traz a bênção; Ela é a mulher que acolheu Jesus em si e o deu à luz para toda a família humana. Como reza a Liturgia: "permanecendo virgem, deu ao mundo a luz eterna, Jesus Cristo Senhor nosso" (Prefácio da Virgem Maria, I).
Maria é mãe e modelo da Igreja, que acolhe na fé a Palavra divina e se oferece a Deus como "terra fecunda" onde Ele pode continuar a cumprir o seu mistério de salvação. A Igreja, através da pregação, que espalha pelo mundo a semente do Evangelho, e através dos sacramentos, que transmitem aos homens graça e vida divina, também participa do mistério da maternidade divina. A Igreja vive esta maternidade, de modo particular, no Sacramento do Batismo, ao gerar os filhos de Deus da água e do Espírito Santo, que em cada um deles exclama: "Abba! Pai"! (Gal 4.6). Como Maria, a Igreja é mediadora da bênção de Deus para o mundo: acolhendo Jesus recebe a bênção e a transmite levando Jesus aos demais. Ele é a misericórdia e a paz que o mundo não pode dar para si mesmo e que o mundo precisa tanto e mais do que pão.
Queridos amigos, a paz, em seu sentido mais amplo e elevado, é a soma e a síntese de todas as bênçãos. Por isso, quando dois amigos se encontram cumprimentam-se desejando mutuamente a paz. A Igreja, no primeiro dia do ano, também invoca de maneira especial este sumo bem e o faz, como a Virgem Maria, mostrando a todos Jesus, porque, como afirma o Apóstolo Paulo: "Ele é a nossa paz" (Ef 2,14) e, ao mesmo tempo, é o "caminho" através do qual homens e povos podem alcançar esta meta que todos aspiramos. Assim, trazendo no coração este desejo profundo, tenho o prazer de dar boas-vindas e cumprimentar todos vós, que vos reunistes na Basílica de São Pedro neste XLV Dia Mundial da Paz: Senhores Cardeais; Embaixadores de tantos países amigos que, mais do que nunca, nesta feliz ocasião, compartilham comigo e com a Santa Sé a vontade de renovar o compromisso pela promoção da paz no mundo; o Presidente do Pontifício Conselho "Justiça e Paz", que junto com o Secretário e os colaboradores trabalham de maneira especial para este fim; os demais Bispos e Autoridades presentes; representantes de Associações e Movimentos eclesiais e todos vós, irmãos e irmãs, especialmente aqueles que trabalham no campo da educação da juventude. Na verdade - como já sabeis – escolhi o tratar do tema da educação na minha Mensagem deste ano.
"Educar os jovens para a justiça e a paz" é a tarefa que diz respeito a todas as gerações, e, graças a Deus, a família humana, após as tragédias das duas grandes guerras mundiais, tem demonstrado ser cada vez mais consciente disso, como evidencia, por um lado, declarações e iniciativas internacionais e, por outro, a consolidação entre os jovens, nas últimas décadas, de muitas e diferentes formas de compromisso social neste campo. Para a Comunidade eclesial educar para a paz é parte da missão recebida de Cristo; é parte integrante da evangelização, porque o Evangelho de Cristo é também o Evangelho da justiça e da paz. Mas, ultimamente, a Igreja tem se tornado intérprete de uma exigência que abarca todas as consciências mais sensíveis e responsáveis pelo destino da humanidade: a necessidade de responder a um desafio decisivo que é precisamente o da educação. Por que "desafio"? Pelo menos por duas razões: em primeiro lugar, porque na era atual, fortemente caracterizada pela mentalidade tecnológica a vontade de educar e não só instruir não é um dado óbvio, mas é uma escolha; em segundo lugar, porque a cultura relativista apresenta uma questão radical: ainda tem sentido educar? E, educar para que?
É claro que não podemos abordar agora estas questões básicas, as quais já tratei de responder em outras ocasiões. Por outro lado, gostaria de salientar que, confrontados com as sombras que hoje obscurecem o horizonte do mundo, assumir a responsabilidade de educar os jovens para o conhecimento da verdade, para os valores e virtudes fundamentais, significa olhar para o futuro com esperança. E esse compromisso com uma educação integral significa também saber formar para a justiça e a paz. Hoje, os jovens estão crescendo em um mundo que se tornou, por assim dizer, menor, onde os contatos entre diferentes culturas e tradições, embora nem sempre diretos, são constantes. Para eles, agora mais do que nunca, é essencial aprender o valor e a forma da convivência pacífica, do respeito mútuo, do diálogo e da compreensão. Os jovens são por natureza abertos a estas atitudes, mas justamente a realidade social em que crescem pode levá-los a pensar e agir de forma oposta, até mesmo intolerante e violenta. Somente uma sólida educação das suas consciências pode protegê-los contra esses riscos e tornar-lhes capazes de sempre lutar contando somente com a força da verdade e do bem. Esta educação parte da família e se desenvolve na escola e demais experiências educacionais. Basicamente, trata-se de ajudar as crianças, os jovens e os adolescentes a desenvolverem uma personalidade que combine um profundo senso de justiça com o respeito pelo outro, com a capacidade de lidar com os conflitos sem arrogância, com a força interior para dar testemunho do bem, mesmo quando isso custa sacrifício, com o perdão e a reconciliação. Dessa forma, poderão tornar-se homens e mulheres realmente pacíficos e construtores da paz.
Nesta obra educativa das novas gerações, as comunidades religiosas também têm uma responsabilidade especial. Toda de formação religiosa genuína deve acompanhar a pessoa, desde a primeira infância, para ajudá-la conhecer a Deus, amá-Lo e fazer a sua vontade. Deus é amor, é justo e pacífico, e aqueles que querem honrá-Lo devem, em primeiro lugar, comportar-se como um filho que segue o exemplo de seu pai. Há um Salmo que afirma: "o Senhor realiza obras de justiça / e garante o direito aos oprimidos; … O Senhor é indulgente e favorável, / é paciente, é bondoso e compassivo" (Sal 103, 6.8). Em Deus justiça e misericórdia convivem perfeitamente, como Jesus nos mostrou com o testemunho de sua vida. Em Jesus «amor e verdade» se encontraram, "justiça e paz" se abraçaram (cf. Sal 85.11). Nestes dias a Igreja celebra o grande mistério da Encarnação: a fidelidade de Deus brotou da terra e justiça olhou dos altos céus, a terra deu sua colheita (cf. Sal 85, 12.13). Deus nos falou no seu filho Jesus. Escutemos o que Deus diz: "Ele anuncia a paz" (Sal 85.9). Jesus é o caminho que podemos seguir, aberto para todos. É o caminho da paz. Hoje, a Virgem Mãe, nos indica, nos mostra o caminho: sigamo-la! E Vós, Santa Mãe de Deus, acompanha-nos com a vossa proteção. Amém.
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Esta é também a experiência que fizeram os pastores de Belém, que aparecem de novo no Evangelho de hoje. Eles fizeram a experiência de estarem na presença de Deus, da sua bênção, não em um salão de um Palácio majestoso, na presença de um grande soberano, mas em um estábulo, diante de um "recém-nascido deitado na manjedoura" (Lc 2.16). É justamente desse menino que se irradia uma nova luz que brilha na escuridão da noite, como podemos ver em muitas pinturas que representam o Nascimento de Cristo. Agora, é d'Ele que nos vem a bênção: do seu nome – Jesus, que significa "Deus salva" – e do seu rosto humano, no qual Deus, o Todo-poderoso, Senhor do céu e da terra, quis se encarnar, ocultando a sua glória sob o véu da nossa carne, para nos revelar plenamente a sua bondade (cf. Tt 3,4).
Maria, a Virgem, esposa de José, a quem Deus escolheu desde o primeiro momento da sua existência para ser a mãe do seu Filho feito homem foi a primeira a ser preenchida por esta bênção. Ela, como a saúda Santa Isabel, é a "bendita entre as mulheres" (Lc 1,42). Toda a sua vida está na luz do Senhor, no âmbito do nome e do rosto de Deus encarnado em Jesus, o "fruto bendito do seu ventre". O Evangelho de Lucas nos apresenta Maria deste modo: totalmente dedicada a conservar e meditar no seu coração tudo o que diz respeito ao seu filho Jesus (cf. Lc 2, 19.51). O mistério da sua maternidade divina, que hoje celebramos, possui de modo superabundante aquele dom da graça que toda maternidade humana traz consigo: de fato, a fecundidade do ventre sempre foi associada com a bênção de Deus. A Mãe de Deus é a primeira abençoada e é aquela que traz a bênção; Ela é a mulher que acolheu Jesus em si e o deu à luz para toda a família humana. Como reza a Liturgia: "permanecendo virgem, deu ao mundo a luz eterna, Jesus Cristo Senhor nosso" (Prefácio da Virgem Maria, I).
Maria é mãe e modelo da Igreja, que acolhe na fé a Palavra divina e se oferece a Deus como "terra fecunda" onde Ele pode continuar a cumprir o seu mistério de salvação. A Igreja, através da pregação, que espalha pelo mundo a semente do Evangelho, e através dos sacramentos, que transmitem aos homens graça e vida divina, também participa do mistério da maternidade divina. A Igreja vive esta maternidade, de modo particular, no Sacramento do Batismo, ao gerar os filhos de Deus da água e do Espírito Santo, que em cada um deles exclama: "Abba! Pai"! (Gal 4.6). Como Maria, a Igreja é mediadora da bênção de Deus para o mundo: acolhendo Jesus recebe a bênção e a transmite levando Jesus aos demais. Ele é a misericórdia e a paz que o mundo não pode dar para si mesmo e que o mundo precisa tanto e mais do que pão.
Queridos amigos, a paz, em seu sentido mais amplo e elevado, é a soma e a síntese de todas as bênçãos. Por isso, quando dois amigos se encontram cumprimentam-se desejando mutuamente a paz. A Igreja, no primeiro dia do ano, também invoca de maneira especial este sumo bem e o faz, como a Virgem Maria, mostrando a todos Jesus, porque, como afirma o Apóstolo Paulo: "Ele é a nossa paz" (Ef 2,14) e, ao mesmo tempo, é o "caminho" através do qual homens e povos podem alcançar esta meta que todos aspiramos. Assim, trazendo no coração este desejo profundo, tenho o prazer de dar boas-vindas e cumprimentar todos vós, que vos reunistes na Basílica de São Pedro neste XLV Dia Mundial da Paz: Senhores Cardeais; Embaixadores de tantos países amigos que, mais do que nunca, nesta feliz ocasião, compartilham comigo e com a Santa Sé a vontade de renovar o compromisso pela promoção da paz no mundo; o Presidente do Pontifício Conselho "Justiça e Paz", que junto com o Secretário e os colaboradores trabalham de maneira especial para este fim; os demais Bispos e Autoridades presentes; representantes de Associações e Movimentos eclesiais e todos vós, irmãos e irmãs, especialmente aqueles que trabalham no campo da educação da juventude. Na verdade - como já sabeis – escolhi o tratar do tema da educação na minha Mensagem deste ano.
"Educar os jovens para a justiça e a paz" é a tarefa que diz respeito a todas as gerações, e, graças a Deus, a família humana, após as tragédias das duas grandes guerras mundiais, tem demonstrado ser cada vez mais consciente disso, como evidencia, por um lado, declarações e iniciativas internacionais e, por outro, a consolidação entre os jovens, nas últimas décadas, de muitas e diferentes formas de compromisso social neste campo. Para a Comunidade eclesial educar para a paz é parte da missão recebida de Cristo; é parte integrante da evangelização, porque o Evangelho de Cristo é também o Evangelho da justiça e da paz. Mas, ultimamente, a Igreja tem se tornado intérprete de uma exigência que abarca todas as consciências mais sensíveis e responsáveis pelo destino da humanidade: a necessidade de responder a um desafio decisivo que é precisamente o da educação. Por que "desafio"? Pelo menos por duas razões: em primeiro lugar, porque na era atual, fortemente caracterizada pela mentalidade tecnológica a vontade de educar e não só instruir não é um dado óbvio, mas é uma escolha; em segundo lugar, porque a cultura relativista apresenta uma questão radical: ainda tem sentido educar? E, educar para que?
É claro que não podemos abordar agora estas questões básicas, as quais já tratei de responder em outras ocasiões. Por outro lado, gostaria de salientar que, confrontados com as sombras que hoje obscurecem o horizonte do mundo, assumir a responsabilidade de educar os jovens para o conhecimento da verdade, para os valores e virtudes fundamentais, significa olhar para o futuro com esperança. E esse compromisso com uma educação integral significa também saber formar para a justiça e a paz. Hoje, os jovens estão crescendo em um mundo que se tornou, por assim dizer, menor, onde os contatos entre diferentes culturas e tradições, embora nem sempre diretos, são constantes. Para eles, agora mais do que nunca, é essencial aprender o valor e a forma da convivência pacífica, do respeito mútuo, do diálogo e da compreensão. Os jovens são por natureza abertos a estas atitudes, mas justamente a realidade social em que crescem pode levá-los a pensar e agir de forma oposta, até mesmo intolerante e violenta. Somente uma sólida educação das suas consciências pode protegê-los contra esses riscos e tornar-lhes capazes de sempre lutar contando somente com a força da verdade e do bem. Esta educação parte da família e se desenvolve na escola e demais experiências educacionais. Basicamente, trata-se de ajudar as crianças, os jovens e os adolescentes a desenvolverem uma personalidade que combine um profundo senso de justiça com o respeito pelo outro, com a capacidade de lidar com os conflitos sem arrogância, com a força interior para dar testemunho do bem, mesmo quando isso custa sacrifício, com o perdão e a reconciliação. Dessa forma, poderão tornar-se homens e mulheres realmente pacíficos e construtores da paz.
Nesta obra educativa das novas gerações, as comunidades religiosas também têm uma responsabilidade especial. Toda de formação religiosa genuína deve acompanhar a pessoa, desde a primeira infância, para ajudá-la conhecer a Deus, amá-Lo e fazer a sua vontade. Deus é amor, é justo e pacífico, e aqueles que querem honrá-Lo devem, em primeiro lugar, comportar-se como um filho que segue o exemplo de seu pai. Há um Salmo que afirma: "o Senhor realiza obras de justiça / e garante o direito aos oprimidos; … O Senhor é indulgente e favorável, / é paciente, é bondoso e compassivo" (Sal 103, 6.8). Em Deus justiça e misericórdia convivem perfeitamente, como Jesus nos mostrou com o testemunho de sua vida. Em Jesus «amor e verdade» se encontraram, "justiça e paz" se abraçaram (cf. Sal 85.11). Nestes dias a Igreja celebra o grande mistério da Encarnação: a fidelidade de Deus brotou da terra e justiça olhou dos altos céus, a terra deu sua colheita (cf. Sal 85, 12.13). Deus nos falou no seu filho Jesus. Escutemos o que Deus diz: "Ele anuncia a paz" (Sal 85.9). Jesus é o caminho que podemos seguir, aberto para todos. É o caminho da paz. Hoje, a Virgem Mãe, nos indica, nos mostra o caminho: sigamo-la! E Vós, Santa Mãe de Deus, acompanha-nos com a vossa proteção. Amém.
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